Um dos maiores clássicos do cinema que nunca havia assistido…
“Nunca deixe que ninguém de fora da família saiba o que você está pensando.”
- Don Vito Corleone, O Poderoso Chefão.
Influenciado por um episódio do Jurassicast (#35) do começo deste mês (ouça aqui)
resolvi parar um pouco o corre-corre da vida para assistir um dos
filmes mais famosos de todos os tempos, e que, sabe se lá porque, nunca
assisti. Quer dizer, até sei. Afinal todos os filmes da franquia são
enormes, chegam a somar 9 horas de história, e são filmes que não se
encontra todo dia na TV. Alias imagino que assistir essa obra em
qualquer canal da televisão com comerciais e cortes deve ser um
sacrilégio. Mas eis que o Netflix
tem em seu catálogo toda a trilogia, completinho ali para quem quiser
assistir. Mais fácil impossível. Fica até mais barato do que comprar os
DVDs ou Blu-rays. Com isso em mente, resolvi finalmente assistir O
Poderoso Chefão.
Custaram-me três noites na semana
passada para conseguir ver tudo, mas valeu à pena. E não vou ficar nessa
matéria explicando ou dando sinopse sobre o filme. Se você nunca
assistiu em algum momento da sua vida vai ter que criar vergonha na
cara, assim como eu criei, e correr atrás desse clássico pra ver por si
próprio porque é uma obra que jamais será esquecida. O engraçado é que
mesmo sem nunca ter visto o filme, certamente já tinha visto muitas
referências e brincadeiras em torno de cenas e falas clássicas do mesmo,
como a própria cena de abertura do primeiro filme, que foi e ainda é
parodiada até os dias de hoje sempre que alguém tem tal oportunidade de
homenagear o filme.
A primeira coisa que tive que colocar na
cabeça para entrar no universo de O Poderoso Chefão é o contexto
temporal na qual o mesmo foi produzido. É um filme de 1972! Então não
posso olhar o filme com os olhos críticos que uso para os filmes
produzidos nos dias de hoje. Faz quatro décadas que ele foi filmado, não
dá para esperar cenas de ação mirabolantes e absurdas ou efeitos
especiais de virar a cabeça. De fato O Poderoso Chefão mesmo para um
filme com 40 anos de casa envelheceu muito bem. Assisti e fiquei
pensando como pode um filme tão velho, ser tão bom. E não apenas em
termos de roteiros, mas como uma obra visual mesmo. Esteticamente O
Poderoso Chefão ainda é um filme muito bonito de se ver. Isso sim é
impressionante.
É uma história envolvente, com atuações
impecáveis e com um roteiro tão bem conduzindo que não dá para ficar
adivinhando o que vai acontecer em seguida. Ainda mais se você assistir
como eu assisti, sem saber bulhufas da história. Porque além de nunca
ter assistido, nunca tomei qualquer spoiler (não que eu lembre) sobre a
obra. Foi muito bom então assistir o filme de cara limpa, totalmente no
escuro. Não havia nem mesmo terminado de ver o Jurassicast #35.
Parei de ouvir o podcast deles antes mesmo de entrarem na história em
si, fui ver toda a trilogia, para depois continuar ouvindo. A única
coisa que estava na minha cabeça era de que dos três filmes, um deles
não era tão bom quanto os demais. Mas não sabia qual (agora eu sei),
então foi meio que uma surpresa também descobrir qual deles seria.
O primeiro filme então foi uma agradável
surpresa. Marlon Brando como Don Vito Corleone é sensacional, um
daqueles personagens de cinema que realmente arrepiam, daqueles que
justificam totalmente o porquê de serem imortalizados dentro do universo
cinéfilo. Total a construção do plot da trama também é de total
imersão. As horas do filme passam num piscar de olhos. Terminei o
primeiro filme querendo partir para o segundo na mesma hora, só não o
fiz porque aí já era muito tarde e tinha que trabalhar no dia seguinte.
Porém, mesmo respeitando toda a
genialidade do primeiro, pra mim o melhor de O Poderoso Chefão é
realmente a Parte II. O filme me pegou totalmente de surpresa em termos
de qualidade. Produzido dois anos após O Poderoso Chefão, ele consegue
ser tanto uma seqüência, quanto um prequel. A história narra eventos
anteriores ao primeiro filme, enquanto continua a história de onde parou
ao fim do mesmo. Claro que ele só funciona muito bem porque o primeiro
filme é muito bem feito, mas ainda assim ele consegue atingir outro
nível de excelência.
O contexto histórico da trama na Parte
II é melhor trabalhado, incluindo a passagem de tempo, que chega a ser
confusa no primeiro filme, também melhora bastante. Eu achei o segundo
filme tem uma história mais densa, mais sombria e mais triste dentro de
tudo que acontece com o personagem principal. Tem uma pegada mais
política também, com as cenas na justiça, traições e conspirações. O
primeiro tem isso, mas no segundo esses elementos são levados ao
extremo. O final me surpreendeu um pouco, pois acaba de forma bem
depressiva, triste mesmo. A idéia de pagar pelos seus pecados. Numa
comparação entre segundo e primeiro filme, no primeiro temos cenas mais
memoráveis e marcantes para a história do cinema, não que o segundo
também não tenha, mas é em menor quantidade, mas o segundo filme
consegue uma imersão maior, uma trama que prende ainda mais.
Já o terceiro, depois de ter visto o
primeiro e o segundo e ter na cabeça a idéia de que eram três filmes e
que um deles seria mais fraco, e ver que ele foi produzido dezesseis
anos após o final da Parte II já sabia que ele seria inferior aos
outros. A minha surpresa é que ele foi muito mais fraco do que achei que
seria. Se pudesse voltar no tempo, não teria assistido a Parte III e
deixado a franquia terminar no segundo. Pesquisei na internet e vi que
muitos dos eventos do último filme da trilogia têm como base fatos reais
(assim como os outros filmes também possuem), mas toda essa pegada
religiosa, como a morte do Papa e o banco da igreja católica, ficou uma
verdadeira farofada. Essa coisa de redenção, de arrependimento não colou
pra mim. Achei a idéia de um mafioso no final de sua vida buscar
arrependimento por tudo de ruim que fez em vida muito clichê, muito sem
graça. Como não vivi e não tenho maiores conhecimentos históricos dessa
época, tem todo esse contexto histórico que não tenho qualquer apego.
Alias para os conhecedores da franquia
The Godfather, que em especial leram os livros que deram origem aos
filmes, a Parte III é baseada em alguns momentos dos livros? Porque eu
sei que há diferenças entre cinema e livro, como a personagem Mary que
tem importância no terceiro filme e nem existe nos livros. Como isso
funciona na obra literária? A impressão que tive é que o primeiro e o
segundo filme são bem fiéis aos livros, enquanto o terceiro dá aquela
viajada em dados momentos. Está certo isso? Pesquisei no Google, mas não
achei nada muito a fundo em relação ao último filme e o que ele chupa
dos livros. Isso me deixou muito curioso.
O terceiro filme tem aquele ato final,
na ópera que é de morrer de tédio. Não faço idéia de quanto tempo tem
aquela cena, mas pra mim pareceu interminável. Admito que já estava
esperando alguma tragédia ali, mas não consegui adivinhar com todas as
letras quem ia pro saco. O desfecho dessa cena é fenomenal, belíssima,
digna de aplaudir em pé, porém o caminho que ela percorre até chegar ao
fim é algo que me cansou ao extremo. Não via a hora daquilo terminar.
Pra mim ficou um ato muito extenso e cansativo, ainda que eu entenda
todo o trabalho e plots que chegaram até ali e que precisavam ser
amarrados antes do filme acabar. Logo depois corta pra cena curtíssima
com a cadeira e o cachorro e putz, me pergunto se precisava mesmo
daquilo? É uma passagem de tempo tão abrupta, ainda fico imaginando qual
a necessidade dela. Pra mim o filme acaba ali, nas escadarias da ópera.
Não precisa de mais nada.
Um das coisas que mais curti na franquia
é todo esse conceito da máfia ser algo bem diferente do que a gente vê
hoje em dia, onde boa parte do crime organizado se sustenta por meio do
contrabando de drogas. Não que quadrilhas ou crime organizado seja máfia
do jeito que o filme conceitua. A idéia de uma organização criminal que
funciona por meio de favores (isso é muito trabalhado na história do
passado na Parte II), que se sustenta por meio dos jogos ilegais e
prostituição, porém não pelas drogas (no primeiro filme) é muito
maneiro. Há todo esse debate de valores morais e familiares dentro da
máfia. Não é uma questão de ganância por dinheiro (talvez por poder,
para não ser massacrado), é uma questão de ser justo dentro de uma ordem
social caótica, onde injustiças ocorrem todos os dias. O olho por olho,
que é deixado bem claro na primeiríssima cena do primeiro filme. A
máfia italiana do filme se mostra como algo necessário dentro da
comunidade e universo do filme até certo ponto, mas o próprio filme
também mostra como ela é prejudicial, danosa e que afeta até mesmo os
inocentes nesse domínio de poder. É uma faca de dois cumes. Claro que
tem suas visões deturpadas e erradas, mas ainda me parece mais poético
do que a forma como vermos em organizações criminais dos tempos
modernos, onde parece que a ganância e a maldade pura estão mais as
claras, onde se importa menos com as coisas ao seu redor. Onde cada dia
se enterra mais certos valores morais em pró do ganho próprio e pessoal.
Sei lá, tudo é errado, mas hoje em dia até mesmo coisas que deveriam
proteger, respeitar e organizar a sociedade são erradas e até imorais…
O Poderoso Chefão é realmente uma masterpiece
do cinema americano. Não dá pra gostar de cinema e nunca ter assistido
essa jóia. Talvez alguns demorem tanto tempo quanto eu demorei pra ver. O
importante é que em algum momento da sua vida você precisa assistir.
Vale aqui a recomendação. Se você tem Netflix é ainda mais fácil!
portallos.com
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