Aqui uma boa matéria feita pelo blog XILFX
Yo!
Falei faz pouco tempo sobre Shuho Sato, autor de Black Jack ni Yoroshiku, e apesar do tom de deboche, ele é um grande artista, fez pelo menos dois grandes hits e não precisou apelar pro fácil (um é de hospital e o outro, de salva vidas) e ganhou todos os principais prêmios da indústria. Merecidamente! E aqui, ele fala um pouco para aquelas pessoas que querem fazer mangá.
O texto foi publicado na internet e é uma crítica direta à todos que
“deixam pra amanhã”. Vou traduzir livremente, na íntegra. Quem sabe
japa, acompanhe sem a tecla sap!
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漫画家になりたいけど、漫画を描いたことのない人って、何考えてるんだろうなぁ…?なれる訳ないじゃん。
O que diabos está pensando uma pessoa que diz “quero ser mangaká” mas nunca fez um mangá…? É óbvio que você nunca vai ser!
今まで見てきた漫画家になれない人たちの言い訳。
As desculpas que vi até agora de pessoas que não conseguem se tornar mangakás:
その1 「まだ描いたことがないので、描けるようになるためにここに勉強しに来たんです。」
1 – “Eu ainda não fiz nenhum mangá, mas vim aqui para aprender.”
その2 「イラストなら描いたことがあります!」
2 – “Se for ilustrações, eu já tenho alguma experiência”.
その3 「そもそも漫画を描けるというこということ自体、特殊能力なんですよ。映画で言えば、監督と脚本と役者と美術と照明とか、いろいろ全部一人でやるようなもんじゃないですか。だから、描けないのが普通なんです」
3 – “Ah, você sabe que desenhar mangá é um talento natural,
né? Se pensarmos em filmes, o trabalho do diretor, roteirista, atores,
diretor de arte, iluminação, tudo isso se concentra em uma única pessoa.
Por isso que não conseguir desenhar mangá é o normal!”
その4 「読み切りのネタが思いつかないんですよね。自分は短編向きじゃないって言うか、長編の構想ならあるんですけどね」
4 – “Eu não consigo criar histórias curtas. Não sou do tipo de contos e oneshots, mas tenho ideia para uma série!”
その5 「漫画はいっぱい読んでるし、見る目は結構あるんですよ。目は肥えてるんで、つまんないって分かってる漫画は描けないって言うか、傑作が思いつけばすぐ描くんですけど」
5 – “Eu já li muito mangá na vida, tenho um bom senso crítico. Por isso, não me contento desenhando qualquer coisa, sabe, se vier uma boa ideia eu faço na mesma hora”.
その6 「いい編集者が担当になれば描けるんですけどね。今の担当がヘボだから描けないんですよ」
6 – “Se eu tivesse um bom editor, eu poderia fazer. O meu de agora é uma mula, por isso que eu não consigo!”
その7 「僕は傑作しか描かないんです。一生に一本傑作が描ければいい。あなたみたいに粗末な漫画を量産する漫画家は軽蔑しますね」
7 – “Eu só quero fazer grandes histórias. Só preciso fazer uma obra de arte na vida. Artistas vendidos como você, eu desprezo.”
その8 「普通に働いてたら、描く時間って無いじゃないですか。」
8 – “Eu trabalho, sabe? Não sobra tempo pra desenhar…”
その9 「漫画はただ描いても意味なんかないんですよ。雑誌に掲載される物しか描きたくないので、雑誌の傾向とか編集者の好みとかをよく調べないと」
9 – “Eu quero fazer meu mangá pra ser publicado. Não tem motivo eu fazer um mangá que não saia nas bancas, por isso eu preciso estudar mais o que dá certo.”
その10 「今、ネームの構想中です」
10 – “Estou bolando a história ainda”.
後100個くらい思い出せるけど、とりあえず、アドバイスできることはすべて同じ。「描きなさいよ」後、新作を何年も描いてない(元?)漫画家さんも、大体同じことを言うなぁ。「描こうと思えばいつでも描けるんだけどね」
Eu ainda me lembro de pelo menos 100 outras, mas meu conselho aqui é sempre o mesmo. “Desenha, p**!” E além disso, aqueles (ex?) mangakás que não fazem um novo trabalho há anos, acho que eu digo a mesma coisa, viu? “Se eu quiser fazer, eu posso fazer a qualquer hora…”
佐藤秀峰先生の「今まで見てきた漫画家になれない人たちの言い訳」
Shuho Saito “As desculpas que ouvi até hoje de gente que não consegue se tornar um mangaká“
Arte de Shuho Sato. O texto diz “Ganbare” e além de uma propaganda de Ganbaru!, significa “Se esforce”.
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Acho que isso casa muito bem com a realidade da gente aqui no Brasil.
A 1, acho que se refere aos moleques que viram assistentes. Assistente de mangaká é um trabalho comum e mal remunerado (em termos japas, mas ganha mais do que eu)
que você pode encontrar até em jornais uma oportunidade. No Brasil,
isso tem o cheirinho daqueles moleques com camiseta de Naruto que entram em cursos de quadrinhos sem nunca ter nem ao menos tentado fazer uma história sozinho.
Já a segunda, acho que é bem a cara da gente. Temos milhares de ILUSTRADORES, mas a maioria passa suas horas fazendo ilustrações para postar no Deviant Art e não faz sequer uma página mixuruca de quadrinhos. Se quer ser ilustrador, ok, go on, champ! Mas se quer ser mangaká (quadrinhista) tem que fazer página, composição, narrativa. Senão, você está fazendo isso errado, meu amigo!
O terceiro passa pelas pessoas que perderam a vontade. “Desenhar é um dom” e “você é um gênio” são frases fáceis que podem ser bem intencionadas e recebidas como elogio, mas que na verdade, são carregadas de um desdém ao esforço. E quando você desiste por ter que estudar coisas de mais, você faz pior. Você superestima os outros e se nivela por baixo. Se existe alguém que consegue, você pode pensar “Ele é especial” ou pode pensar “se ele pode, eu posso também“. Mas como isso costuma acompanhar uma força de vontade, precisa antes encontrar isso. Seu tesão por fazer mangá!
O quarto eu ri muito quando li. AQUILO ERA UM MEME DA COMUNIDADE DA AÇÃO! Quando eu divulguei as regras do concurso (tsc) de novos talentos, choveram frases tipo
“ai, eu não consigo fazer uma história boa de verdade em 20 páginas”,
“vocês podiam deixar pelo menos 45 páginas”, “pode ser o primeiro
capítulo da minha série?”…. O que eu disse lá, eu digo de novo. Faça algo, nós julgaremos o que é bom nele e não se ele vai entrar na revista. Ou
seja, faça uma história curta, deixe as pessoas lerem antes de fazer
uma grande que pode ser uma enorme perda de tempo de todos nós.
5, é a síndrome de Alan Moore. Quem é do mangá talvez não conheça o velho bruxo, mas nos quadrinhos ocidentais, ele é um dos maiores roteiristas. Fez dezenas de histórias memoráveis, mas o que as pessoas esquecem é que ele não viveu só de V de Vingança e Watchmen, ele já fez um clássico de poucas páginas, A Piada Mortal e, claro, já fez coisa encomendada e algumas histórias ruins. Nem mesmo Alan Moore vive só de clássicos.
No sexto, acho que trocamos o editor por editora e mudamos o status para “eu não tenho ninguém“. “Se eu tivesse uma editora pra me bancar, pagar o meu trabalho e publicar a história que eu quiser fazer, eu serei um mangaká“. Ou seja, ele quer um gênio da lampada! Pior que isso aflige muitos “novos artistas” dos quadrinhos, que chegam pedindo trabalho e depois que você dá, ele percebe que não queria trabalho, queria só as vantagens. Eu trabalhei com um assim antes.
O sétimo eu ouvia de um cara amargo que falava mal de todo mundo que ousasse fazer alguma coisa,
seja amador ou profissionalmente. Você tinha que fazer obra de arte
louca e inovadora em todos os sentidos. Mas se você fizesse isso, você
era retardado. No final, esse tipo de pessoa é aquele que acaba fazendo um material bem abaixo. É por isso que crítico não pode fazer o que critica. Porque todos vão esperar no mínimo que você não cometa os erros que costuma apontar nos outros.
8 é o soneca. “Nossa, eu trampei muito hoje, meu chefe é um mala, metrô tava lotado, eu só quero um banho, janta e cama.” E assim, vai postergando. “Amanhã eu faço“. Mas amanhã já se foi e ai vem o complemento desta desculpa. “Ah, é que essa rotina me destrói!” É o “só mais cinco minutinhos…” da sua carreira.
O nono eu ouvi ainda ontem. Pra quê fazer webcomic, ninguém quer fazer de graça. E mesmo se for fazer, tem que saber o que o público quer, tem que estudar a melhor forma, ver como vai fazer… Pois eu digo que o público vai ler se for divertido. A melhor forma é aquela que pode ser lida por muita gente.
E como fazer é fácil. Com as mãos se mexendo. É tudo muito simples, mas
a gente complica. Por último, quem disse que não ganha? Se tiver boa
visitação e você souber lucrar, dá pra viver disso.
O décimo talvez as pessoas não tenham reconhecido. Eu chamaria de “eu tenho vários projetos”. As pessoas acumulam ideias, deixam elas como projetos e nunca as soltam ao mundo. É o aquário da sala, cheio de peixes lindos, mas presos, nadando num canto escuro da sua casa, onde só seus amigos mais íntimos podem ver. Arte não é genitália, se você acha que é bom, mostre pras pessoas!
Temos que fazer antes de reclamar que as coisas não acontecem. Antes de falar que “é sempre a mesma panelinha de sempre”, “as editoras só querem saber de licenciar estrangeiros”, “Ah, ele só chama os amigos”. “Minha história não é mainstream”. “é que eu faço seinen”, “é que eu faço shojo”,
“é que eu nunca fiz nesse estilo antes”, “eu não sei desenhar
máquinas”, “eu não sei desenhar cavalos”, “eu não gosto de desenhar
muitos fundos”… As desculpas se amontoam e se disfarçam, pousadas em críticas. Se estão disponíveis para criticar tudo e todos, então quando produzem? E com que qualidade?
O que falta neste meio é calar a boca, se focar e ir criar algo. Qualquer coisa.
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