” A história do filme é igual ao gibi ? ” Me perguntam amigos e
parentes, sobre os agora badalados filmes de heróis. Hoje, os nerds de
outrora prestam serviços de consultoria de filmes-quadrinhos aos
populares ( popupular é oposto de nerd ). Tem quem chame de vingança.
Um filme de super herói é uma concha de retalhos que agrega anos de
mitologia criada por vários autores, editores, desenhistas, etecetera. Cristopher Nolan
costurou os inúmeros retalhos em roteiros soberbos. A seguir, algumas
dessas costuras. Incrivelmente notáveis, frequentemente não notadas :
1. Bane
Personagem que nasceu para matar Batman. Construído para destruir . Nos anos 90, o editor Denny O’Neil mais os roteiristas Chuck Dixon, Doug Moench e desenhista Graham Nolan inventaram o dito cujo, nascido nalguma prisão infernal da América Central ( Santa Prisca
), que sonhava em derrotar o cara mais casca grossa do lugar mais casca
grossa possível. Saiu perguntando onde e quem e lhe disseram Gotham e
Batman. E ele foi. E quebrou o morcego. No filme, o fez no físico e no
psico, sendo no físico, igualzinho aos quadrinhos: com uma joelhada na
coluna.
2. Robin
Desde o primeiro filme da trilogia, não ouvi ninguém dando falta do
Robin. Ainda assim, é inegável o quanto o garoto prodígio foi parte
importante da vida de Bruce. Sacanagem terminar a história assim…sem
sequer citá-lo .
A solução de Nolan foi usar Robin como um dos nomes de batismo do sucessor de Batman, John Blake, que remete aos três Robins dos quadrinhos, em personalidade e históricos ; a profissão policial do primeiro, Dick Grayson, a orfandade do segundo, Jason Todd, e a perspicácia do terceiro, Tim Drake, que descobriu a identidade do Batman sozinho. Perfeito.
3. O Arco Ras Al Guhl
Quando Nolan anunciou que o vilão do primeiro filme seria Ras Al Guhl, poucos botaram fé. Quem é esse ? Perguntavam os populares. Por que esse ? Indagavam os fanáticos .
Vi Ras Al Guhl pela primeira quando li a Graphic Novel O Filho do Demônio,
nos anos 80. História estranha. Batman não estava em Gotham. Batman
pegou uma mina. Enfim, um monte de coisa que acontecera quase nunca.
Porém foi um episódio que se tornaria um marco na vida de Bruce já que
ela viria a engravidar e ter um filho ( um bat azar do cacete ) , que
tinha que estar no filme de alguma forma. Por isso o filme tem como vilã
suprema Talia, e não o Bane como somos conduziados a crer até às tantas.
A revelação de Talia como vilã diminui muito o impacto de Bane, o que é pena, pois bom vilão. A mitologia venceu o roteiro.
Quanto à imortalidade de Ras Al Guhl, ela também é mencionada. Quando
Ras aparece para Bruce em delírio e Bruce pergunta se ele está vivo,
ele responde que ” há várias formas de imortalidade “. E viva la
mitologia.
4. Momentos Emocionantes
Há vários, mas dois em particular foram muito interessantes. O primeiro, na volta de Batman ao metier, quando o detetive se vira para Blake e diz que estão prestes a ver um show. Alusão direta a “o retorno do morcego”, primeira parte da mini série Cavaleiro das Trevas onde existe cena semelhante em situação idêntica.
A segunda, é de cena semelhante em situação diferente. No filme,
quando Batman enfrenta Bane, está cercado por platéia e a arena é um
fosso fedorento. O mesmo se deu em Cavaleiro das Trevas, quando Batman
enfia o coro no Líder Mutante,
o fazendo comer lama no fosso infecto em que brigam. A diferença é que
Nolan escolheu a ocasião para a ser a queda de Batman e não seu triunfo.
A atmosfera , contudo, é a mesma.
5. Batman como um símbolo
Foi uma ideia explorada por toda a trilogia. Nos quadrinhos pode
fazer sentido ver um homem passando a vida lutando incessantemente
contra o crime, mas no “mundo real” em que Nolan escolheu ambientar a
história, a escolha do símbolo é mais palatável. Bruce Wayne foi o
Batman por um período curto de tempo, mas seus feitos cristalizaram um
símbolo do qual qualquer um pode se apropriar.
É o que acontece. No fim do filme, Blake toma o manto, mas não sabemos qual. Robin, Asa Noturna, Azrael, um novo Batman ( do Futuro ) ? Mas pouco importa, pois a ideia foi passada.
Dado o universo real no qual Nolan situou a história, o mais provável
é que Blake termine seus dias como Wayne terminou em Cavaleiro das
Trevas: um mentor estrategista dos Filhos de Batman,
um exército de jovens que pintavam um morcego no rosto. Batman, embora
morto ( ou por causa disso ) vira um símbolo que balas nem pancadas
podem matar.
Esse Nolan manja das coisas
mondovazio.com
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