Kelly Misawa é modelo exclusiva de conceituada revista japonesa de moda
Kelly Misawa, 27 anos, é brasileira, nascida em Belo Horizonte, Minas
Gerais. Como tantos nipo-descendentes (nikkei) cuja família teve
problemas financeiros, foi ao Japão para trabalhar como operária em
fábricas.
No Japão, Kelly continuou a buscar seu objetivo: trabalhar como
modelo. Embora não seja conhecida em seu país de origem, ela,
atualmente, tem uma carreira sólida no país onde mora desde os 14 anos
de idade.
Com trabalhos para marcas renomadas no portfólio, Kelly foi
contratada como modelo exclusiva de uma famosa revista de moda japonesa,
a Miss.
No Japão, o mercado de moda é altamente concorrido. As revistas de
maior destaque contratam modelos para os editoriais – um contrato de
exclusividade significa muito prestígio.
Leia, a seguir, uma entrevista com a modelo Kelly Misawa.
Entrevista: Kelly Misawa
A modelo Kelly Misawa
Qual era a situação quando você foi ao Japão pela primeira vez?
Foi em marco de 1998. Por motivos financeiros, minha família e eu fomos ao Japão para trabalhar em fábrica. Era uma rotina muito cansativa, de muitas horas de trabalho.
Foi em marco de 1998. Por motivos financeiros, minha família e eu fomos ao Japão para trabalhar em fábrica. Era uma rotina muito cansativa, de muitas horas de trabalho.
Você já falava japonês quando foi ao Japão? Como foi o período de adaptação?
Por não falar a língua japonesa, tive vários problemas de adaptação. Um país desconhecido, uma cultura diferente, pontos de vistas diferentes… essas foram as maiores dificuldades.
Por não falar a língua japonesa, tive vários problemas de adaptação. Um país desconhecido, uma cultura diferente, pontos de vistas diferentes… essas foram as maiores dificuldades.
Como era o seu trabalho nessa época?
Trabalhei em fábricas de doces, refrigerantes e bentoya [espécie de lanche típico do Japão], mas o mais pesado foi trabalhar em uma fábrica de geladeiras. Lá, eu parafusava partes que vinham pela esteira. Ficar o dia todo trabalhando na linha de montagem parafusando essas peças de geladeira com as pistolas foi o pior de todos os serviços. Houve dias em que não conseguia dobrar os dedos da mão de tanta dor.
Trabalhei em fábricas de doces, refrigerantes e bentoya [espécie de lanche típico do Japão], mas o mais pesado foi trabalhar em uma fábrica de geladeiras. Lá, eu parafusava partes que vinham pela esteira. Ficar o dia todo trabalhando na linha de montagem parafusando essas peças de geladeira com as pistolas foi o pior de todos os serviços. Houve dias em que não conseguia dobrar os dedos da mão de tanta dor.
Durante todo o tempo em que você esteve no Japão, pode nos contar um momento marcante, tanto feliz como triste?
Tive vários momentos marcantes, tanto tristes como felizes. Os tristes foram os problemas financeiros da família e as dificuldades de trabalhar como modelo no início da carreira.
Tive vários momentos marcantes, tanto tristes como felizes. Os tristes foram os problemas financeiros da família e as dificuldades de trabalhar como modelo no início da carreira.
Os felizes foram poder ter conseguido ultrapassado os obstáculos da
vida, ter o reconhecimento do meu esforço no trabalho e, recentemente,
tive a oportunidade de realizar um grande sonho: um contrato exclusivo
com uma das revistas de moda mais conceituadas do Japão, que é a Miss.
Além disso, tive a felicidade de lançar um livro de fotos, lançar a minha biografia (Dakara, anata mo ganbate) e um livro de beleza (Kelly’s Beauty Secret), em que falo sobre o meu estilo de vida, beleza, exercícios físicos, moda etc.
Nascida em Minas Gerais, Kelly vive no Japão desde os 14 anos
Por ser um sonho desde a minha infância, quis tentar. Procurei uma agência de modelo em Tokyo e decidi tentar o trabalho de modelo.
Conte um pouco sobre o livro Dakara, anata mo ganbatte.
Nesse livro, eu falo sobre minha infância no Brasil. Também sobre a perda de um irmão mais velho, as dificuldades financeiras dos meus pais, o vício que meu pai tinha de fazer investimentos em bolsa de valores, as dificuldades de adaptação ao chegar no Japão, o trabalho pesado nas fábricas e como foi difícil construir a carreira de modelo no mercado japonês.
O livro conta minha história, mas nele eu transmito as lições de vida que tive, o quanto é necessário ter esforço e persistência para alcançarmos os nossos sonhos e que o trabalho de modelo não é todo o glamour que parece ser.
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Além de trabalhar como modelo, pretende atuar em outros ramos, como cantora ou atriz, por exemplo?
Por enquanto, pretendo continuar minha carreira como modelo no Japão, mas, claro, se aparecer uma oportunidade de trabalho como atriz, eu adoraria ter a experiência de atuar.
Hoje, você se considera totalmente adaptada ao estilo de vida no Japão?
No Japão, o mercado de modelo é muito diferente dos outros países. A adaptação pode acabar sendo difícil para algumas pessoas. Hoje em dia estou tão adaptada à rotina e ao estilo de vida no Japão que às vezes quando eu saio da rotina por alguns dias, sinto falta.
Sente falta de alguma coisa do Brasil?
De comida, seria pão de queijo e feijão com polenta e couve refogada. Mas do que mais sinto é da família, dos amigos e desse calor humano que só os brasileiros têm.
Você mantém contato com a comunidade brasileira no Japão?
Sim, sempre tive contato com os brasileiros que moram em Tokyo. A maioria são jovens que moram afastados da família desde os 15, 18 anos. Por isso, a comunidade, apesar de pequena, é bem unida. Acho legal ter um contato para não esquecermos nossas origens.
Você pretende ficar para sempre no Japão?
Nos primeiros anos, tinha planos em voltar a morar no Brasil, mas como eu criei raízes muito fortes no Japão, fica difícil tomar uma decisão e planejar onde ficar… Bom, por enquanto, vou deixando a vida me levar.
madeinjapan
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