Yo!
Bakuman se tornou um sucesso falando sobre fazer mangá. Entre seus
méritos está o fato de que criou uma onda de novos artistas, que acaba
sendo também seu ponto mais irritante. Todo mundo virou “especialista de
mangá”. Vamos ver mais cinco obras que abordam o tema?
Otoko no Jouken
Uma das primeiras séries da Shonen Jump, Otoko no Jouken abordava uma
época diferente do Japão. Kazutaro largou os estudos depois do ginásio
para trabalhar em uma indústria, em condições sub-humanas. Seu sonho era
fazer mangá e para isso, ele tenta se tornar assistente de um grande
mangaká. Recusado, ele acaba se metendo em uma briga com a yakuza e tem
sua cabeça ferida por uma garrafa. Com o seu próprio sangue, Kazutaro
prepara as páginas de um teste, que o faz ser finalmente aceito. Imagine
os exageros dramáticos dos gekigás da década de setenta em uma história
de sucesso pessoal. Como se Kyojin no Hoshi se misturasse com Bakuman.
Isso é Otoko no Jouken. É tão dramático que seu rival não quer
simplesmente fazer um mangá melhor, ele quer mesmo matar o protagonista!
Apesar de parecer interessante pela premissa e ter dois grandes
autores produzindo, Otoko no Jouken durou apenas dois volumes e foi
cancelado. E nunca mais foi republicado, salvo uma ou outra aparição em
compilações, como a Jump Legend (que eu tenho!). Somente com o passar do
tempo é que seu nome passou a ficar conhecido entre os leitores mais
obstinados, como um material cult. O interesse cresceu depois de ser
citado em Bakuman, com suas cinco regras do mangaká MACHO! (tipo fazer
do seu sangue o seu nanquim…)
Autores: Ikki Kajiwara e Noboru Kawasaki, a dupla de Kyojin no Hoshi. Foi publicado entre 1968 e 1969, na Shonen Jump.
Manga Michi
Com certeza o maior mangá sobre fazer mangá. Está na prateleira de
praticamente todo grande mangaká da atualidade, de Eiichiro Oda à Harold
Sakuishi. É a história auto biográfica de Fujiko Fujiyo A, um dos
mangakás da dupla Fujiko Fujiyo. Eles fizeram parte da segunda geração
do Tokiwa-sou, a pensão lendária onde Osamu Tezuka viveu, e foram
assistentes e amigos pessoais do deus do mangá. Na época deles, fazer
mangá era mais do que publicar semanalmente, mensalmente… A maior parte
dessa geração publicava mais de uma história simultaneamente. Faziam
dezenas de páginas por semana e viviam na adrenalina de múltiplos
deadlines. Mas eram apaixonados por tudo isso. E por isso aguentavam
tudo, mesmo sem todo o glamour dos grandes nomes de hoje.
Eles viviam em quartos de quatro tatames e meio ( cerca de seis
metros quadrados), com banheiro e cozinha coletiva, não tinham carros
caros e nem filas de fãs. Mas exatamente por isso, eram apenas os que
viviam o mangá com o coração. E é esse o grande charme da obra. Ela
mostra o verdadeiro amor por fazer mangás e é considerado a alma do
mangaká, a essência de viver pela arte.
Autor: Fujiko Fujiyo A. Publicado entre 1970 e 1972, na Shonen Champion.
Manga no Tsukurikata
Uma inusitada visão da produção de mangá feminino, que segue uma
forma completamente diferente do mangá para garotos. Claro que é uma
área ainda mais particular, por causa do romance velado entre garotas, o
yuri, que rola na história. Nela, Asuka Kawaguchi, um prodígio dos
mangás, que iniciou sua carreira aos 13 anos, está com 19 e há um bom
tempo em uma crise criativa. Fora do mercado, ela se inspira em uma nova
mangaká para criar uma nova história. Para isso, ela busca experiência
com algo que tem funcionado no mercado: o yuri, a relação amorosa entre
duas garotas. Usando uma amiga que é apaixonada por ela, Kawaguchi cria
as situações para sua nova obra. Mas essa amiga é Morishita, que assina
seus mangás como Sachi, a mangaká que colocou Kawaguchi de volta no
mercado.
Ao contrário dos outros, é uma obra mais de relacionamento do que de
produção em si, mas toca em um ponto muito importante do mangá feminino,
que é o de se tornar cobaia de suas histórias. Muitas autoras de mangá
se forçam a viver relacionamentos e terminar eles para criar histórias
realistas sobre sentimentos e esse é o ponto dessa história. Apesar do
rótulo -yuri-, que acaba sendo uma versão com meninas do boys love, a
história consegue ir um pouco além. Os diálogos são bacanas, e mesmo
quando não dizem nada, acabam por dizer muita coisa. Ah, e vale dizer: o
mangá é seinen, ou seja, para homens.
Autora: Aori Hirao. Publicado desde 2007, na Comic Ryu, e ainda é publicado.
Eroman no Hoshi
Esse é uma grande surpresa. O título se traduz para “A Estrela do
Mangá Erótico” e realmente se trata de um garoto almejando se tornar um
mangaká de pornografia. Mas se leva tão a sério que chega a ser uma
leitura de alto nível, cheia de referências otaku de todo tipo, bem
humorado, louco, mas cheio de dicas valiosas e verdadeiras, sobre tudo
da produção de um mangá, desde o roteiro até a arte, indo de amador à
assistente e depois profissional. Eu diria que em dois volumes, ele vale
mais para um aspirante a mangaká do que os vinte volumes de Bakuman. E o
final ainda pode ser tão intenso que vai tirar lágrimas dos mais
sensíveis. Sério! Um mangá que leva a masturbação a níveis quase
científicos!
Provavelmente o que eu deixaria no topo da leitura para quem se interessa.
Autor: Morihito Kanehira. Publicado em 2010, na Young King Ours.
Bokuman
O polêmico. Shuho Sato nasceu com uma veia para a contestação. Seu
maior sucesso, Black Jack ni Yoroshiku, critica abertamente o sistema de
saúde japonês, que tem problemas que transformariam o SUS em modelo de
atendimento. Reparou que nos mangás, todo mundo que quer se recuperar de
alguma doença grave vai para os EUA? Além disso, ele criou um mega
sucesso nas adaptações, Umizaru, que bateu recordes nos cinemas em sua
segunda adaptação e criou uma briga entre ele e a Fuji TV, que produziu
as adaptações de suas obras, por conta de repasses duvidosos e falta de
comunicação no uso da marca. Agora, imagine o que pensa um cara como
esse quando vê o idealista e fantasioso Bakuman? Bokuman é uma resposta
direta ao positivo mercado do mangá de Oba Tsugumi e Takeshi Obata.
Muito mais duro e cheio de áreas cinzentas, ele trata o mercado de
mangás com o mesmo carinho que tratou o sistema de saúde. Mas
infelizmente a série durou apenas 3 capítulos e foi cancelada, sem
final. Na verdade, sem começo até, já que a história nem ao menos havia
engrenado. Shuho explicou em seu site dizendo que houve complicações
contratuais que não puderam chegar a um acordo entre as partes e o
afastou da produção. Havia a possibilidade do artista tomar as rédeas,
mas no fim, a série foi mesmo cancelada, apesar de toda a repercussão
que causou.
Não vale a leitura? Vale. Sato é um bom narrador, extremamente
detalhista na criação de página e sua história parecia estar caminhando
bem. Mas três capítulos inconclusivos e sem chegar a lugar algum em
nenhum ponto é bem frustrante. Vale ver o making off,
publicado no site do autor, uma verdadeira aula de engenharia de
página, mostrando como posicionar balões e imagem de forma fluida e
natural. Mas pelo assunto em si? Não vale.
Autores: Shuho Sato e Tokihiko Ishiki. Publicado em 2011, na Manga Action.
E mais um de bônus!
Uchi no San Shimai
Pegue uma veterana artista de mangá, que publicou por anos na
Margaret, selo shojo da Shueisha. Coloque ela para falar de suas três
filhas, em um mangá simples, sobre o cotidiano. E você tem uma obra
incrivelmente simpática sobre uma dona de casa comum, que trabalha em
seus mangás, cuida da casa e cria suas três filhas pequenas, com tudo
que acontece normalmente, mas de uma forma que só uma pessoa criativa
pode contar. Às vezes, misturando fantoches e brincadeiras de criança.
Outras, videogames e coisas que ela abandonou com o tempo. Virou um
manual e uma espécie de confessionário de jovens mães como ela e um
sucesso respeitável, com um anime bacana, games, produtos…
Você não vai ver dica nenhuma aqui, nem tanta coisa de bastidores (só
coisas tipo “minha segunda filha vomitou enquanto eu fazia uma página”)
mas vale pra ver o esforço de ser mãe e ser mangaká ao mesmo tempo.
Autora: Pretz Matsumoto. Publicado desde 2005 e ainda em publicação. Na Manga Club, depois migrou para a Suku Suku Paradise.
genkidama
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