…Mais forte do que um rato! Era exatamente o que eu ia dizer.
(Por adreanekacs)
Provavelmente todas as pessoas, seja em
sua infância, adolescência ou vida adulta tiveram ou têm um herói
favorito. Há aqueles que prefiram os paladinos da DC, outros gostam mais
dos demasiado humanos heróis da Marvel. Não se pode também olvidar dos
fãs de heróis orientais, sejam personagens de mangás, animes, tokusatus,
live actions, etc. A Literatura tradicional também é ricamente povoada
por grandes heróis, assim como filmes e séries. Heróis românticos,
dúbios, sombrios, mitológicos e anti-heróis vêm combatendo inimigos
assustadores e/ou carismáticos há séculos, em todas as culturas,
servindo de inspiração para incontáveis gerações: homens e mulheres que
em algum momento sonharam em ter grande força física, poderes especiais,
grande inteligência ou armas poderosas para combater o Mal e salvar o
mundo.
No entanto, como já dizia uma
coadjuvante de uma estória que li, os heróis podem ser divididos entre
aqueles que você admira e aqueles com que você se identifica. E a
identificação não precisa residir apenas em características psicológicas
ou história de vida. Refiro-me aqui aos heróis que nos são
identificáveis justamente por possuírem muitas falhas, por não serem
mais fortes ou inteligentes do que a média da população, por não serem
especialmente corajosos ou bonitos. Uma pessoa tão ordinária que, se
você topasse com ela na rua, pensaria “quem é esse mané?”
É sobre um herói assim que esse texto tratará.
Cervantes escreveu Dom Quixote como uma crítica às novelas de cavalaria e, guardadas as devidas proporções, eu criei o Chapolin como o anti-herói latino-americano em resposta ao excesso de super-heróis norte-americanos.
- Roberto Gómez Bolaños
El Chapulín Colorado (No Brasil, O
Chapolin Colorado) foi criado em 1970 pelo ator e escritor mexicano
Roberto Gómez Bolaños e tornou-se popular em todo o mundo. O Polegar
Vermelho é um ícone reconhecido por todos que tiveram acesso a uma
televisão em algum momento de suas vidas. Independente de período
histórico, país ou mesmo planeta, o Vermelhinho ia ao socorro de quem o
invocasse, ainda que a pessoa em perigo se arrependesse depois e
tentasse chamar o Batman.
Tonto, medroso, atrapalhado, mulherengo,
o Chapolin sempre dava um jeito de vencer os malfeitores, sendo que no
processo calculava friamente em quantas paredes toparia, em quantos
buracos cairia e quantos vasos seriam quebrados em seus pés e cabeça. E
mesmo quando tudo parecesse perdido, ele apelaria à sorte, à esperteza
ou mesmo a seu senso moral para salvar as pessoas.
Um de meus episódios favoritos foi “O
presente de casamento”, no qual a secretária de um advogado troca por
acidente o presente de casamento da filha do porteiro (dois vasinhos)
com o presente de casamento da filha do ministro (uma televisão
colorida).
Nesse episódio, o herói faz ao final um
belo discurso sobre a injusta distribuição da riqueza e como as pessoas
são valorizadas de maneira diferente dependendo da classe social de que
fazem parte. Em vários outros episódios, o tema da pobreza e do egoísmo
das classes mais abastadas foi também abordado sem, no entanto, soar
panfletário e sem destoar do tom estabelecido pela estória. A sutileza
do texto fez com que, durante a infância, muitos não percebessem o qual
rico e genial aquele programa era.
O humor de Bolaños tem como
característica principal ser inteligente e questionador e, ao mesmo
tempo, ter grande apelo junto aos mais diversos grupos sociais, coisas
que faltam a muitos comediantes da atualidade. Apesar dos poucos
recursos para a produção do programa, o Chapolin teve a competência de
fazer críticas sagazes que se mostram atuais até hoje. Dentro do
universo dos super-heróis, o mais emblemático exemplo de crítica seria o
Super Sam: a mistura de Superman e Tio Sam que carregava um saco de
dinheiro e tinha como bordão “Time is Money, oh yeah”. Ele era uma forte
(e hilária) sátira ao consumismo e exportação da cultura dos Estados
Unidos, sem mencionar o caráter de “intrometido” do personagem nas ações
do Chapolin, o que simbolizava a política externa intervencionista
norte-americana em plena Guerra Fria (e ainda existente).
Chapolin não tem reboots ou
reformulações feitas por escritores consagrados (o Homem-Abelha de Os
Simpsons conta?), tampouco trilogias no cinema – embora se fale de um
filme animado para 2013 – ou grandes efeitos especiais característicos
de uma superprodução, no entanto isso não diminui seu carisma, pois
todos conseguem se enxergar no personagem em algum aspecto. Corajoso
quando precisa ser e bem-intencionado apesar de tudo, sendo
continuamente aproveitado por sua nobreza, o Vermelhinho é o grande
herói da América Latina e segue surpreendendo a todos que o revisitam.
Vemos em sua inteligência e lirismo um programa merecedor dos adjetivos
“eterno” e “clássico”. Sempre devemos contar com a astúcia desse herói
em nos fazer descobrir coisas novas não importa quantas vezes
acompanhemos suas aventuras.
Sigam-no os bons.
portallos.com
portallos.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário